Era um rapaz negro, pouco mais alto que eu, vestindo um rosto jovem, perto dos vinte anos, mas cuja pele corroída pela miséria e os olhos vermelhos e secos impediam de ocultar sua origem humilde:
–Mora onde?
–Perto da Unesp. Como a maioria dos estudantes de lá. — Respondi. Perto e longe dependem do referencial. Para aquele jovem do Pq Jaraguá,a Unesp é longe, tanto geograficamente quanto socialmente.
–Onde fica issu?
–Do outro lado de Bauru.
–Ahn.
Seguiram-se alguns momentos em silêncio, no qual uma velha, também negra, cujas expressões nem são mais possíveis de ler, tamanha as rugas, marcas e olhos profundos, passa andando fumando um cigarro como se fosse o último no mundo.
–Cê istuda?
–Jornalismo…
–Ahn. Cê veio tirá foto da cidinha, eu vi…
O rapaz respira fundo.
–Eu sô um perdido. Só penso em droga, não consigo pensá otra coisa. Tem jeito não. Como é seu nome?
–Rodrigo.
–Prazer, eu sô Fernando. Viu, cê não tem um real pra eu comprá uma pinga?
Impossível privar-lhe, ao menos uma vez, o seu alívio no álcool.
Dei-lhe um real. Ele subiu a rua. Meu ônibus chegou.
A gente aprende uma coisa ou outra sobre a vida às vezes.