Acabei de receber um e-mail da minha mãe, me dizendo que ela tem visto nas notícias nevascas em vários lugares dos EUA. Nós vimos algumas coisas sobre isso aqui, está acontecendo uma coisa muito estranha: está nevando em vários lugares dos EUA, menos aqui, quando geralmente acontece o contrário nessa época do ano. Nevou até no Novo México, o que acontece muito raramente, e aqui ainda não conseguimos nem dez centímetros de neve! O clima endoidou… Já ouvimos algumas histórias de gente que veio trabalhar na região esse ano, mas por falta de trabalho se mandou para Miami. Está difícil trabalhar mesmo, o resort está vazio, o restaurante está minguando… Estou fazendo seis horas por dia em média, preciso de uma média de quase sete horas para pagar a minha viagem e a estadia… Se não nevar eu vou ter prejuízo. Mas não vou fazer como o BS, que está indo atrás de um segundo emprego. A minha prioridade aqui é experiência, e não o dinheiro, e se eu ocupar todo o meu tempo, não terei como aproveitar, esquiar, e essas coisas.
Uma curiosidade que eu reparei antes: O Michael estava reclamando do aquecimento global. Ele dirige uma Blazer. Sua esposa dirige uma Blazer. O seu pai dirige uma pick-up gigante. Sua mãe dirige uma van. Os SUVs (Utilitários esportivos) contribuem para o aquecimento global em média quatro vezes mais que um carro compacto. Não é preciso ser um gênio para juntar A+B.
Ontem o Michael levou eu e o Bidula para esquiar. Ficamos apenas meia hora, mas até que foi divertido. Ele disse que a trilha estava bem ruim, que era preciso muito mais neve para deslizar mais, mas eu já escorreguei bastante e capotei duas vezes (na reta…). O Bidula capotou quatro, mas ele consegue ir no dobro da minha velocidade. O BS estava fazendo housekeeping lá no Solbakken esse dia, por isso não pôde ir conosco. Pelo menos fiquei sabendo que posso pegar os esquis aqui do hotel, que eles alugam para os hóspedes de graça e tentar esquiar nas trilhas aqui perto (aquelas que eu fui arrumar outro dia).
Depois o Michael nos levou até Lutsen Mountains, apenas para vermos algumas pessoas praticando esqui e snowboard. (Downhill, ou descer montanhas. XD) O Michael disse que qualquer dia vai nos levar para fazer isso também, mas eu vi o tamanho das descidas, é bem alto, não sei se vou ter moral de descer aquilo. E se tiver eu provavelmente vou capotar. Várias vezes…
Ainda não arrumaram o aquecedor do nosso quarto, e eu estou passando frio aqui agora. Calma, não tão frio, pois apesar de lá fora estar -11ºC, aqui dentro a temperatura está num constante 20ºC. Mas vinte graus é frio, eu estou assistindo TV com cobertor, e ficando de blusa no quarto, quando antes ficava só de camiseta. Talvez o problema seja no controlador de temperatura (Que deixamos em 40ºC, numa tentativa de esquentar um pouco), talvez no aquecedor mesmo. Não sei, só sei que estou pedindo todo dia para arrumarem essa coisa, e já faz uns três dias. O problema é que de manhã ele funciona, aí quando alguém vem ver ele está soltando ar quente, mas de noite, que é mais frio, ele não funciona direito, e o quarto fica frio. Frio em vinte graus, ainda não está nevando dentro do meu quarto. Ainda.
Antes de ontem lavamos roupa. Assim como em Bauru, como não poderia deixar de ser, no último dia possível, quando acabam as cuecas. Nós íamos lavar antes, mas não tínhamos sabão. Por isso pedimos para o Matt, ele nos emprestou, enquanto não compramos. O chato é que a lavadora e a secadora são de moedinhas, então se vai 1 dólar nessa brincadeira, aliás, 30 centavos de cada um, porque lavamos nossas roupas juntas. (Apenas cuecas, meias e as camisetas longas que eu uso por baixo de tudo, o resto nem tem porquê lavar, não suja.
Tomei banho pouco antes de começar a escrever isso aqui, a última vez que tinha feito isso foi a última vez que escrevi, meu cabelo estava adquirindo vida própria, e minha barba estava começando a criar uma fauna própria.
Essas fotos foram antes do banho. Eu tentei tirar uma foto poser, mas só saiu nítida a que eu estou com cara de bobo. (Pra variar… ¬¬)
Falando em fauna, já estou começando a cansar de ver deers (veados). Tem mais deers aqui do que vira-lata nas ruas do Brasil, ainda não vi nenhum de pertinho, só de uns 20 metros… Quero ver se tiro alguma foto uma hora dessas.
Ontem fomos jogar volei em Grand Marais, na verdade eu e o Bidula jogamos apenas um jogo rápido e então ficamos batendo a bola de basquete que havíamos levado, enquanto o BS ficou jogando todos os jogos. O problema é que era todo mundo meio velho, o jogo era zoneado, eu nem sabia até onde ia a quadra. Quero ir no dia que a quadra é aberta ao basquete, fui ontem porque o BS insistiu. Ele também nos levou até o apartamento das peruanas depois, ele havia pegado elas no caminho.
O BS colocou nove dólares de gasolina ontem, deu mais de meio tanque. Nós estávamos preocupados com o preço, porque é difícil calcular as coisas quando as medidas são em milhas, a gasolina é vendida por “galons”, e você não faz idéia de quantas milhas por “galon” faz o seu carro. O lance é que não é tão caro abastecer o carro por aqui, dá pra encher o tanque com menos de 20 dólares, mas mesmo assim estamos maneirando no carro, não queremos nos afundar em despesas.
Quinta feira vamos para Duluth, vamos resolver o nosso “social security”. Nós só podíamos ir lá em torno de dez dias depois de começar a trabalhar, já estamos trabalhando faz quinze dias, mas não tínhamos arrumado um meio nem um dia. Agora já está agendado, acho que o Bidula vai aproveitar para comprar eletrônicos. Vamos fazer compras também, porque comprar comida por aqui é muito mais caro.
Hoje nós trabalhamos um pouco de lixeiros (tirar os lixos de duas cabanas de estoque), jogar na caminhonete e jogar num contâiner. Não foi a primeira vez que eu e o Bidula fizemos isso, mas hoje estávamos sozinhos… E, como não podia deixar de ser, derrubamos um dos barris pelo caminho. Sim, EU estava dirigindo, e não, eu NÃO zoei com aquela caminhonete. Pelo menos não quando estava com lixo em cima… XD… Brincadeirinha…
Agora à noite o restaurante estava tão vazio que só tivemos duas mesas, até fechamos um pouco mais cedo… Havia uma mulher, uma hóspede do hotel, que estava sozinha. Não pude deixar de reparar, porque poucas pessoas aparecem naquele restaurante desacompanhadas no jantar, aliás, já me chamou a atenção o fato dela alugar uma cabine sozinha. Pouco mais tarde pediu à recepção para mudar para um dos quartos do lodge principal. Acredito que pelas cabines serem maiores lhe aumentava a angústia solitária. Magra, em torno de cinquenta anos, provavelmente bela quando jovem, pediu um “Breaded Walleye”, um dos pratos mais caros do cardápio, mas não comeu nem um quarto de sua comida. Ela parecia um pouco triste, como são as pessoas sozinhas. Fiquei imaginando qual seria sua história, se já tivera um marido, o que teria acontecido, se estaria tentando reconstruir sua vida, se estaria tentando seguir em frente, ou se sua vida sempre fora marcada por uma tênue amargura. Talvez seja alegre, talvez estava apenas em um dia ruim…
Ao mesmo tempo havia um casal com uma criança bem nova, em seus três anos. Garoto simpático, estranho ter sorrido para mim. Crianças geralmente me rejeitam.
Essa é a melhor parte de se tornar um garçom. Conhecer pessoas, imaginar histórias… Todo mundo tem a sua. E esse blog é a minha!